sábado, 3 de dezembro de 2011

Hanami - Cerejeiras em Flor (2008)


Seria difícil começa a falar desse filme, sem antes dizer que trata-se de uma miscelânea de cultuas e assuntos. Hanami é um filme alemão (co-produzido com a França), dirigido por Doris Dorrie. O filme mostra a vida de um casal na terceira idade (Rudi e Trudi) que tenta manter a sua rotina entre as dificuldades da sociedade do "rush".

Em visitas aos filhos, percebem que são mais um incômodo do que um suspiro, a relação do tempo é bem discutida com elementos singelos. Trabalho e aposentadoria, presentes e telefonemas. Mas esse não é o ponto crucial de Hanami - Cerejeiras em Flor.

A morte é um assunto mais profundamente trabalhado, e o desapego ao velho, ao sentimentalismo. Em alguns momentos esse desapego me pareceu exagerado, pois parece que o filme quis mostrar que o novo (os jovens) não são dotados de uma preocupação com velho de forma alguma, e uma vez isso sendo mostrado através de relação de pais e filhos, me pareceu um pouco exagerado.

Mas, contudo, entretanto, todavia. Foi a forma encontrada pela diretora de mostrar que o luto é sentido e construído de forma diferente, individual. Dorrie nos diz isso, o luto é um função matemática positiva (??, desculpem-me, mania de economista) do seu cotidiano. Você constrói o seu luto a partir da relação emocional que você construiu com o falecido, seja ela de desapego,
dependência, cobrança, culpa. Seja qual for o alicerce da relação em vida, esse será o alicerce da construção do luto.

Trudi (a esposa) recebe a notícia de que Rudi (o marido) está morrendo, e resolve proporcionar alguns momentos especiais ao marido, sem que ele sequer saiba das más novas. Visitar os filhos, ir à praia, e à Tóquio (também visitar um filho). Porém, na absurda e inconveniente ironia do destino, quem falece é Trudi, e quem constrói o luto o marido e os filhos.

Rudi descobre que a esposa tinha uma verdadeira curiosidade e admiração pela cultura japonesa, e resolve viajar até lá. E é nesse momento que Hanami dá uma "reviravolta" no roteiro. Os elementos trabalhados a partir desse momento são de um simbolismo que vezes mostram-se evidentes, mas em alguns momentos parecem uma grande viagem da sua cabeça. As cerejeiras que representam o novo, a mudança, o ciclo são o elemento mais gritante nesse momento do filme.

A beleza do Butô é pincelada belamente em algumas cenas, e essa arte é bastante importante para a compreensão do filme. O Butô é uma dança típica japonesa, cujo expoente máximo é Kazuo Ono, que foi construído através da imersão da cultura japonesa em elementos artísticos como o surrealismo e o expressionismo. Trata-se de uma dança forte, visceral e filosófica, com movimentos ora extremamente lentos e suaves, ora bruscos e sofridos. (Desculpem-me por algum erro de definição ou conceituação, mas é o que eu entendo do Butô, que é complexo por demais)

O processo de Rudi em lidar com a perda e com os sentimentos deixados e evoluídos a partir dessa perda é então mostrado a partir desses elementos, desses simbolismos com uma tocante sensibilidade. Com cenas bem poéticas (que ganham uma grande ajuda da paisagem de Tóquio e da beleza do Butô), o filme mostra essa construção do luto, a obrigação do luto. Mas uma obrigação que não é pesada, que por vezes é até prazerosa, de imaginar a pessoa com você, de buscar a pessoa no não físico e na natureza, as acima de tudo. Na busca do que a pessoa deixou em você, do que é vivo.

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